Deviam, hoje, ser umas 21H55 quando entrei no balneário da piscina, em Beja. "Já estou atrasada", pensei.
Pouso o saco no banco e, enquanto faço correr o fecho para alcançar o meu fato-de-banho, levanto a cabeça e olho na direcção das vozes miúdas que vinham da zona dos chuveiros... E aí parei, pelo que pareceu uma eternidade, mas que não terá durado mais que meia dúzia de segundos.
O balneário já não era o mesmo... viajo no tempo, talvez uns dez anos, talvez até um

pouco mais. Na minha memória corriam agora, quase à velocidade da luz, aquelas horas infidáveis (e que pareciam sempre apenas alguns minutos!) que passávamos as três nos balneários da piscina do Montijo...Regra geral, momentos de pura paródia, outros de longas conversas sobre assuntos que achávamos muito importantes, os mais importantes do mundo! Assuntos sérios, e de gente crescida, pensávamos nós. Vi-me com a Inês nas corridas do quente e frio, do progressivamente quente e, claro, do progressivamente gelado!

Vi-me a cantar no chuveiro com a Paula o "Lemon tree"! Vi a nossa cara de espanto quando a empregada, a quem carinhosamente chamávamos de "Frankenstein", berrou com a Paula ao pensar que ela estaria subrepticiamente a toureá-la, quando apenas trauteava a música d'"O Império Contra Ataca"(conclusão: pouco cinéfila a senhora)! Vi as gargalhadas, as cantorias, os desatinos... ouvi as conversas...o Petiz e a "Cadela", o Gualter, o "Brasileiro", o António, o Raminhos, o "Dois-em-Um" e, lol, tantos outros! Os testes disto e daquilo, a "Stôra" Maria Amélia que não nos largava, as faltas e as negas da Inês que encobríamos como podíamos e como não podíamos...
E o coração apertou-se-me...mais de dez anos... para onde foi tanto tempo? Como é que ele se nos escapou por entre os dedos assim?
Que é feito de nós? Para onde foram aquelas horas e aquelas gargalhadas...?
Uma porta bate atrás de mim, e traz-me de volta à realidade. Suspiro, e tiro o fato-de-banho do saco. Equipo-me, na certeza porém de que não vão ser aquelas caras que vou encontrar dentro de água. Sorrio. Quanta Saudade!
Muitas vezes me perguntei porque não tinha mais amigas assim. Hoje tenho a certeza da resposta: porque não precisava de mais.
Adoro-vos às duas. Para Sempre.
Sophia.